Encontro marcado
Maria esperava ansiosamente pela sua chegada enquanto olhava a chuva lá fora. Tinha planeado tudo ao pormenor para nada correr mal, cada detalhe, cada pequeno gesto, cada sorriso de potencial alegria. Apenas queria ser feliz, apenas isso e mais nada. Estava cansada de tanto sonho vão, sem sentido nem direcção, e de tantas quedas pelo caminho.
Esperava sentada no restaurante marcado por ele, aquele alguém que ela idealizava, mesmo sem conhecer na verdade, pois de si pouco lhe falava. O lugar era apetecivelmente aconchegante, de ar familiar, de uma riqueza interior surpreendente, pronta a embalar em si corpos solitários embebidos no vazio. Maria vestia alegremente o vestido preto, que passara horas antes cuidadosamente a ferro, e que ele lhe oferecera, juntamente com um doce beijo na face, no último encontro.
O tempo escorria pelas paredes e ele ainda não tinha chegado... parecia estar atrasado. Talvez, pensou Maria, devido ao temporal que fazia lá fora. Porém lá dentro tudo era tão melhor, tudo tão único e ideal para a realização do sonho e do crescimento de novas asas, novos horizontes despromovidos de obstáculos, novos céus sem limites.
- Hoje vou voar bem alto e desta vez não será para cair – murmurou Maria sorrindo para dentro mordendo os lábios.
Os minutos passavam lentamente e nada acontecia, ele teimava em não chegar. Passaram agora já duas horas, que mais pareciam uma eternidade contida no tempo, e absolutamente nada, nem um sinal, nem uma chamada para o telemóvel. Maria percebeu aí, naquele local de fantasia, que afinal tinha caído e bem de alto, aprendeu que para a próxima teria que voar minuciosamente bem mas sozinha.
Levantou-se serenamente e saiu. Ainda hoje ela desconhece a verdadeira pessoa que a enganou, suspeitando que, simplesmente, talvez se tive-se enganado a si própria.