Friday, June 13, 2014

Arrepia quando sem um tu
Não pode haver um eu,
O pronome pessoal passa então
A perder a sua individualidade
Como se a carne ganha-se espinhas,
Como se as putas ganhassem castidade,
Como se os pântanos ganhassem terras,
E a terra áspera no céu nascesse,
Como se no teu funeral fosse eu que morresse!

Assim como apenas existe
O olhar de cobiça junto do olhar terno,
Existe o meu demónio junto do teu anjo,
Uma barraca de lata junto a um castelo
E ainda existe, a ideia que persiste,
Uma força invencível na unidade como um sismo,
Galopando forte e vil na fronteira,
Sempre correndo no linear do abismo,
Onde caem pedaços de corpos mas de alma inteira!

Wednesday, May 21, 2014


Sede

A minha sede não é somente de não,
É de sensação exclusiva e ser profundo,
Erguer-me por dentro de um buraco sem fundo
E dizer-me gritando, mais, mais e mais.

Ser-me imaterial e viver,
Esculpindo caprichosamente todo o sentimento,
Decifrar o núcleo de cada sensação,
Embriagar-me porque sim ou porque não!

Lavra-me a multidão as terras,
Fazem-me a cama,
O ser e o não ser,
E quando dou por mim já outros me fizeram.

E fugindo nego-me
E canto sem paixão,
Mas no vosso leito,
Murcho e sem tesão,
Adormeço, sou da escuridão.

Quero ser eu,
Inventar-me e ser autêntico,
Aquele com mais aquele,
Meu e o teu sem ser teu,
Eu sem ser meu,
Mas quando abro os olhos,
Ganzado sem drogas,
O vento sopra e tudo já foi. 

Monday, February 10, 2014


No dia

No dia em que te matares,
Estica os teus lençóis,
Lava-te no teu perfume
E põe o teu melhor colar,
Ao som do rádio de estrume.

Coloca a roupa a secar ao sol,
Entre as moscas e a neblina matinal,
Nesse dia em que te matares.

Leva o miúdo ao infantário,
Esse, o que nos inicia no social,
Por entre buzinadelas de gente,
E sinais nunca dantes fechados,
Beija-o no stress das horas vagarosamente.

E no dia em que te matares,
Depois de te lavares,
Podes-te sempre lembrar
Que no outro dia jamais te vais levantar.