Sunday, December 02, 2007


A palavra amor

Cospe-se dentro do corpo por se achar gigante a palavra amor. E surda me diz a palavra engano a cada vez que sonho para me matar de seguida. Limpa-se a alma dentro de ti pelos nós da garganta que desatei em cada beijo. E calado me sopra ao ouvido o verso de carne sobre carne, amor sob amor. Suja-se a pele em nós por se amassar cada grito dentro da boca em asfixia. E morto me dizem que afinal a vida acabou sem começar pelo medo de existir. Inspira-se o pó para dentro de mim por ti e inertes em cansaço nascemos para gastar o que não sabemos ter. E mudo me diz o poeta pela palavra que o amor é por ti e sem ti. Somente porque sim.

Sunday, August 26, 2007

Chove pesadamente

Chove-me o pensar no sentimento,
Chove-me e dói por pesar
No sentir bem devagar.
Chove pesadamente
Por pensar que sente
Sem nada mostrar.
Chove-me sem molhar sequer.
Sinto, já sem sentir,
Que não sei o que quero dizer.
As palavras tropeçam
E devagar deixo-me desfalecer.

Thursday, June 07, 2007

Transparente
Transparente é não pensar
E sentir-se eternamente só.
É saber o momento,
Conhecer o tempo e sonhar.
Transparente é saber-se
Água em fogo morto,
Ser-se branco no preto,
Naufragar no próprio porto.
É cantar calado
E falar olhando.
É saber chorar em silêncio
Mesmo abraçado a ti.

Saturday, May 12, 2007

As palavras do poeta
As palavras do poeta que por o ser ama sem limites, sem olhar a vírgulas ou a pontos finais, sem olhar ao seu próprio fim, apenas por ter medo de perder aquilo que achou e é só seu. E porque existem coincidências saborosas de se beberem, mesmo sem passado, onde escorre o ar que o amor respira. E porque penso-te sentindo demais, transpiro infinito desejo tendo toda a saudade tatuada no corpo. Gritos são as palavras eternas do poeta, o teu poeta, cuja a morte acontece no fim do amor total. A ti, meu verso e rima, porque te amo.

Saturday, April 14, 2007

Morreste-me

Morreste. Engoles as palavras por entre a saliva já sem sabor, já tão vazias de nós. Morreste em cada silaba deglutida por ti, em cada frase que te viola o ser e te deixa despida. As letras caem para dentro de ti e nada fazes. Caem. E nada. A queda já não te dói. Já nada te dói. Morreste mesmo antes de nascer, mesmo antes de termos acontecido numa só vida, num só corpo, num só amor. A língua fala para dentro, para o interior da boca, e a voz cala. Silêncio. Tu e o teu palato seco. Os dias coseram-te os lábios e nem com a força dos dedos eles descolam, aprendeste a calar-te. Morreste calada viva, morreste por não saberes ser tu.

Sunday, April 01, 2007

Morto em ti

Dispo-me de ti,
Transparente de suor,
No voo sem asas
Que sonho em fazer.


A carne, o beijo,
A perna entre perna,
A pele, eu, tu e nós,
Aleija-me agora o corpo,
Morto em ti de saudade.

Friday, February 16, 2007

Passo a passo

Depois da música de fundo, ouviu-se os saltos altos. Aqueles que se sente paixão pelo passo, pelo andar subtil de assassina, pelo homicídio de cada gesto simples do andar. Aqueles que suportam o peso do corpo onde o frio se transforma rapidamente em calor. Aqueles que abafavam a tonalidade do ar, a melodia que havia em cada ouvido e em cada ruído dito por ela. Medo diziam os pés. Calcavam veneno. A bala atingiu o peito do desconhecido mas a música, essa ainda se escuta dia após dia. Meu amor, minha música.