Saturday, December 31, 2005

Máscara de pessoa

Sou contemporâneo de Pessoa na sua plenitude mais subjectiva, uma vez que a minha existência ultrapassa o para lá do linear, onde o que se apresenta são simples interrogações à vida e o seu porquê. Penso nas coisas que são coisas como sendo coisas para além das coisas, como se sendo o que são não me basta-se e tenho a tendência de lhes atribuir simbolismo, conotação pessoal e singular. Uma música não é assim simplesmente uma música, uma junção de acordes, de notas conectadas a vozes e a instrumentos, é, para além disso, um momento, uma lembrança, um lugar, uma pessoa. E se pessoa na Grécia antiga queria dizer máscara, então sou mesmo contemporâneo de Pessoa, embora não saiba quantas faces tenho e quantos papeis desempenho. Sou eu e os meus múltiplos de eu. Sei apenas que me apresento no palco da confusão, mas no entanto, no palco do já claramente visto por muitos antes de mim. Vivo na vontade eterna de querer sentir tudo e de todas as maneiras imaginárias. Talvez assim preencha tanto vazio cá dentro, um vazio que vem do fundo, mas somente só amanhã terei tempo de o preencher cheio de tudo, um tudo que quando chegar a hora será tanto nada para mim. E é este cansaço sem fim que sinto, que não sei de onde vem que me impede de interpretar e valorizar devidamente as coisas, essas mesmas que para mim deixam de ser coisas simples para ser coisas sofridas, sem nada, coisas de mim sem valor para ninguém e somente minhas. Mas sim, como dizes tu grande poeta, apenas depois de amanhã... Sim, ou então depois de depois de amanhã. Aí encontrarei o tudo, o infinito e a resposta para aquilo que agora não sei. Mas porque já sei que não irei ficar satisfeito? Maldita sede de voar mais alto! Ah, sim, sou contemporâneo de Pessoa.

Para um poema - (excerto do poema "Adiamento" de Álvaro de Campos, interpretado pelos Coldfinger)

(...)

Depois de amanhã, sim, depois de amanhã
Levarei amanhã a pensar
Em depois de amanhã
E assim será possível,
Mas hoje não hoje nada, hoje não posso...

(...)

Thursday, December 22, 2005

Para lá do fumo

Fumo calmamente
Enquanto abraço o meu corpo na ausência do teu.
Já nada há.
Apenas eu e eu.
Já nada é meu,
E dói, dói, dói,
Tudo me foi.

Escrevo sem parar para te esquecer
Mas não,
Tudo insiste em doer.
Eu mais tu,
Tu mais eu
Desapareceu por entre este cigarro.
Já nada há,
Já nada em mim agarro.
Tudo está já para lá,
Para lá...
Onde desconheço o que há.

Saturday, December 10, 2005

Quando dói sem razão porque afinal não a sei, uma vez que nada me foi demonstrado, culpo-me a mim e à minha ingenuidade tão frágil por tal. Danço assim, solitariamente, num palco sem chão e voo, mesmo sem ter asas para voar, em direcção a um céu que não existe. Talvez por isso eu caia tantas vezes, por muito que me chamem à atenção e me digam “Tem cuidado!”. Porém, continuo por aí a cair e a levantar-me, ora com ajuda ora sem, convicto que a mim me pertenço, andando ao sabor da maré, não sabendo, no entanto, em que mar navego. Se sei viver ou não, não o sei dizer... Talvez sim, talvez não. Enquanto isso vou caindo e me levantando para aprender a saber ser.

A ti, senhor Palma, um muito obrigado pelas lições de vida.



Yogi Pijama – Jorge Palma

Buscando sem saber bem o quê
Perdido como quem não vê
Calado como quem não tem resposta para quem o chama
Desesperado, como quem por ter medo da desilusão não ama
Yogi Pijama
Se deixas apagar a chama, estás virado para o desastre
Como uma vela sem mastro
Ou um barco sem leme
Condenado a andar à toa conforme o vento lhe dá
Ao sabor da corrente
Yogi Pijama
Olha que andar ao deus dará nunca foi coisa boa
Yogi Pijama

Quebrando os seus ossos na rua
Fugindo da verdade nua
Como se abrir as portas ao Mundo fosse uma coisa obscena
Desencontrado como quem por ter medo da foz o rio condena
Yogi Pijama
Se deixas apagar a chama, estás virado para o desastre
Como uma vela sem mastro
Ou um barco sem leme
Condenado a andar à toa conforme o vento lhe dá
Ao sabor da corrente
Yogi Pijama
Olha que andar ao deus dará nunca foi coisa boa
Yogi Pijama

E já que nós nunca estamos sós
Vamos lá desatar os nós
E vamos lá chegar inteiros, onde quer que a vida nos leve
E enquanto é tempo
Deixa ver esse sorriso, que isso torna a pena mais leve
Yogi Pijama
Se deixas apagar a chama, estás virado para o desastre
Como uma vela sem mastro
Ou um barco sem leme
Condenado a andar à toa conforme o vento lhe dá
Ao sabor da corrente
Yogi Pijama
Olha que andar ao deus dará nunca foi coisa boa
Yogi Pijama