Saturday, October 29, 2005


Sim, eu sei

Estou velho, pensei.
Já não sou quem me conheço,
A mim jamais me pertenço,
Mas a alguém que não sei.

Não sou o mesmo das fotografias,
O mesmo que navegava nos dias,
Em tudo mudei.
Em nada em mim me demorei e fiquei a saborear,
Nunca no relógio parei e pensei
Estou velho, sim, eu sei...
De mim para mim estou incompleto,
A meio da recta do fim,
Estou velho, sim, eu sei.



Saturday, October 15, 2005

Mais um

Após um dia, apenas mais um, sinto o cansaço já tão comum em mim. Descalço-me, sentindo o chão fresco, sentindo-me a mim no reflexo enevoado do espelho há muito rachado. “Que cara”, penso. Arrasto-me pelas divisões da casa como se não as conhecesse, mas olhando tudo com indiferença, nada me agrada, nada me cativa, tudo é tão, tão, tão... sim, igual a si mesmo. Nada apenas tenho e nada é tudo nestes dias transparentes e, que mesmo assim, é tão pesado de se carregar. “Estou cansado, sinto-me velho” digo não obtendo resposta nem de mim para mim. Hoje tudo estranho mas nada é tão novo como fora dantes, onde o infinito e o sonho são uma só realidade, uma só meta a atingir. “Para quê?”... penso-me racionalmente mais uma vez.
De tanto pensar já me perdi, já não sei onde estou nem quem sou. Sei apenas isso, agarrando-me a uma almofada qualquer como se ela fosse tua, pois das minhas odeio-as. Tento achar nela o teu perfume, o cheiro de outros tempos, contudo nada. No fim da tarde e sem ter fim, deito-me no chão, fecho os olhos e tento adormecer... Mas custa tanto, tanto. Sim, amanhã será melhor.

Saturday, October 01, 2005


Escrita de eco

Escrevo para mim,
Para auto-satisfação
Porque de mim só me falto eu.
Escrevo perto do meu fim,
Onde tudo é tudo e meu.

Sendo assim,
Não vou para longe de mim
Quando nada acontece na escrita
Porque sempre que escrevo,
Escrevo como quem grita

E o eco sempre fica.