Monday, August 29, 2005



Perfeito

Está feito.
Eu mereço-o
Tal como é, imperfeito.
Conheço-o.
Sim, conheço-o.
De mim o nada é eleito,
Contudo
E em tudo
O perfeito,
Mesmo sendo tão imperfeito.

Arranjo cada tijolo da casa cuidadosamente
Para ter em mim a perfeição,
A perfeição de mim e da minha mente,
Bem junto do imperfeito do coração.

Wednesday, August 24, 2005

Dia de trabalho

Maria acordou para mais um dia de trabalho ao som do despertador prateado. Na mesinha de cabeceira pousada, a revista de moda que lera antes de adormecer. Ao lado, na cama, jazia o espaço vazio que, ansiosamente, queria ela um dia preencher com o corpo de alguém. Os lençóis permaneciam amarrotados após mais uma noite de pesadelo, não havia tempo para sonhar, tinha que ir trabalhar. Levantou-se e deslizou para a casa de banho, pintada a cor de rosa claro, bem a seu gosto. Abriu as torneiras da banheira e olhou-se agradavelmente ao espelho enquanto se despia.
- Hoje sinto-me bonita. Hoje sinto-me eu - murmurou sorrindo para o seu reflexo, passando as mãos pelas suas próprias ancas.
Vagarosamente entrou na banheira e acendeu um cigarro. Não queria saber de horários nem obrigações a cumprir, pois hoje sentia-se bonita e era raro sentir-se assim, tinha que aproveitar. Brincou com a espuma rindo, fechou os olhos e sonhou como sonhara nos seus tempos de criança, lembrando-se do tempo em que a sua avó lhe dava banho com tanto carinho. Agora não tinha ninguém, só a ela. Mas hoje estava feliz, era o que importava. Não, não iria trabalhar.

Saturday, August 20, 2005


Para quem pensa que fado é tristeza...

Montras

Ando na berma
Tropeço na confusão
Desço a avenida
E toda a cidade estende-me a mão
Sigo na rua, a pé, e a gente passa
Apressada, falando, o rio defronte
Voam gaivotas no horizonte
Só o teu amor é tão real
Só o teu amor…

São montras, ruas
E o trânsito
Não pára ao sinal
São mil pessoas
Atravessando na vida real
Os desenganos, emigrantes, ciganos
Um dia normal,
Como a brisa que sopra do rio
Ao fim da tarde
Em Lisboa afinal

Só o teu amor é tão real
Só o teu amor…

Gente que passa
A quem se rouba o sossego
Gente que engrossa
As filas do desemprego,
São vendedores, polícias, bancas, jornais


Como os barcos que passam tão perto
Tão cheios
Partindo do cais

Só o teu amor é tão real
Só o teu amor…


Poeta: Pedro Campos
Cantor: Mariza

Wednesday, August 17, 2005


Nicotina e cafeína... melhor mistura para celebrar a solidão?

Quando tudo mudo

Sei de tudo,
Sim, de tudo,
Quando tudo mudo
Para ficar igual.
Se o tempo não avança
E tudo me descansa,
Sou sempre o mesmo,
Logo sei tudo de mim.

Sono eterno sem dormir
Com tudo ainda por vir.
Sim, sei de tudo,
Enquanto um simples cigarro fumo.

Contudo
Uno o presente ao futuro
Num só momento puro
E logo sei de tudo,
Mas nada mudo.

Nada.

Thursday, August 11, 2005



Amor de chocolate

Cenário perfeito para a busca do outro na sua verdadeira essência, na essência natural do amor. Bom local para despir as farsas e dar boas vindas à imaginação do corpo e da mente. Despedaçar nele todo o nosso desejo, desejo de realização e de procura de alguém, onde serás tu o meu chocolate e eu a tua boca preferida para te derreteres. Espero lá por ti.

Saturday, August 06, 2005



União – Tudo é o que é

Nada em mim tem explicação lógica, absolutamente nada. Tudo é o que é, apenas e somente tão simplesmente. Não estranho nada, porque nada me estranha, sou parte de tudo. Em mim deixo um pedaço de cada lugar e cada lugar rouba uma parte de mim, sou eu em cacos. Vivo em construção, numa construção pouco complexa, onde tudo é o que é. Sim, tudo é o que é. Eu sou eu na minha individualidade, no meu espaço infinito, onde sou eu o Deus de mim próprio, onde traço eu o limiar do meu impossível, só meu, meu, meu... Tudo é o que é e logo sou o que sou.
E também sem explicação, e apenas porque sim, amo-te a ti, minha música. Talvez tão vulgarmente como uma criança, mas amo-te. “One hand love the other so much on me”, quem sabe por seres igual a mim, talvez sim...talvez eu seja música, meio jazz, meio clássico, meio rock, e só assim desato as minhas mãos de mim próprio, numa união única contigo, onde desconheço o que vem depois. É tão bom não saber o que vem depois, tão bom...
Nunca pensei nisto, na união. Sempre me perturbou perder a minha individualidade, o meu sentido de existência. Ainda não o sei, mas é tão bom não saber, não saber de nada, o que vem, o que foi, tão bom. Tudo é o que é para sempre.

Unison - Björk

One hand loves the other
So much on me

Born stubborn me
Will always be
Before you count
One two three
I will have grown my own private branch
Of this tree

You gardener
You discipliner
Domestically
I can obey all of your rules
And still be, be

I never thought I would compromised
I never thought I would compromised
I never thought I would compromised

Let`s unite tonight
We shouldn`t fight
Embrace you tight
Let`s unite tonight

I thrive best hermit style
With a beard and a pipe
And a parrot on each side
But now I can´t do this without you

I never thought I would compromised
I never thought I would compromised
I never thought I would compromised

Let`s unite tonight
We shouldn`t fight
Embrace you tight
Let`s unite tonight

One hand loves the other
So much on me

Let`s unite tonight
We shouldn`t fight
Embrace you tight
Let`s unite tonight
Let`s
Ooohhhh ooohh

Unison
Unison
Unison

Tuesday, August 02, 2005


Fila de espera

Sou prostituto do intelecto,
Sou-o sem afecto,
Faço-o por obrigação.

Quem não pensa doi
E perde tudo que foi.
Faço-o para não me perder na escuridão,
Mas fazendo-o perco-me de mim.
Levo o pensamento em linha recta,
Na fila de espera da multidão
Enquanto me decido da posição mais correcta.

Sentindo-me perco-me deles,
Pensando perco-me de mim para eles.

Triste caminhada sem fim...