Saturday, September 08, 2012



 Fundo Ateu


No teu fundo ateu,
Sem pátria nem Deus,
Lembra-me o bolso vazio
No cifrão do teu coração cheio.

No teu fundo ateu,
Onde não há sonho vão,
Lembra-me o pesadelo são
De putas e vinho com pão.

No teu fundo ateu,
Sem Olimpos nem Carnavais,
Lembra-me a festa crua
Naquela nudez que é só tua.

Justiça, educação e saúde
Dás de forma gratuita e pagã
Nas formas do teu corpo,
Ora de linho, ora de lã.

Sunday, August 19, 2012



Aflição

Aflito me foge o grito
Nesta ansiedade não sei de quê.
Gritando em silêncio fito
Esta aflição aflita do porquê.

Morrer era melhor solução
Para matar a tristeza que dói
Mas triste e caído persisto,
Solenemente, na cruz que me mói.

Friday, June 01, 2012


Foi

Foi neste isolamento que me fecho,
Sentado no escuro de mãos no tecto,
Aspirando sonho e tesão de mais,
Fugindo de ti quando estás perto.

Foi crescendo mingando em mim
Que se destruiu a boca na palavra,
O significado do fim na vida,
O inicio do amor de nada.

Sunday, April 08, 2012

Repetido

É este nada
Que absorve
E transpira em mim
O assobio do fim do teu corpo,
A melancolia do ser.

É este nada
Que mata
E faz renascer
A embriaguez da vida,
O cansaço vital para parar.

Tuesday, February 21, 2012


Comemos sem horas, com relógios, quase que propositadamente para o atraso. Chama-me pelo nome para jantar, pondo os pratos ainda lavados para detalharmos os pormenores deste atraso, do sabor a café na ponta da língua. Cigarros, esses, contamos por entre os dedos e apagamos os ponteiros nas suas pontas. Migalhas foram e sobraram do vento que passou. Na parede estás tu e eu na cama, quando acabaram as cinzas e as mortalhas. Fotografias quase rasgadas. Apagamos a luz e o tempo começa a contar.