Saturday, April 14, 2007

Morreste-me

Morreste. Engoles as palavras por entre a saliva já sem sabor, já tão vazias de nós. Morreste em cada silaba deglutida por ti, em cada frase que te viola o ser e te deixa despida. As letras caem para dentro de ti e nada fazes. Caem. E nada. A queda já não te dói. Já nada te dói. Morreste mesmo antes de nascer, mesmo antes de termos acontecido numa só vida, num só corpo, num só amor. A língua fala para dentro, para o interior da boca, e a voz cala. Silêncio. Tu e o teu palato seco. Os dias coseram-te os lábios e nem com a força dos dedos eles descolam, aprendeste a calar-te. Morreste calada viva, morreste por não saberes ser tu.

1 comment:

Carlota Rebelo said...

Este post tem uma força imensa! Muitos parabéns! Um beijo*