Multi-Eu
Num fim de tarde chuvoso, no café do jardim ao som de um jazz clássico, de perna cruzada, um homem de meia idade e de cachimbo na boca lia calmamente o seu jornal. Em cima da mesa de madeira adormecia a chávena de café e um cinzeiro repleto de pontas de cigarro, nervosamente fumados por o cliente anterior. As paredes do estabelecimento eram envidraçadas, provocando jogos com os corpos das pessoas, fazendo aquilo a que o homem chamava de duplicação e deformação do eu. Gostava de estar ali, pois era ali que se multiplicava e não sabia de si enquanto lia um simples jornal.
- Quantos sou eu e de quantas formas tenho eu? – pensava enquanto cuspia fumo.
Na verdade não sabia, pois a cada momento mudava, uma vez que toda e qualquer experiência vivida modificava o seu “eu” verdadeiro e autêntico. No entanto, muito estranhamente, gostava disso. Então ia sempre, depois do emprego, àquele discreto café de jardim, para constatar essa realidade através dos espelhos, para se realizar e observar as suas potenciais mudanças de cada dia.
Passado alguns minutos, apressadamente, o empregado aproximou-se para cobrar o café.
- Meu senhor, desculpe mas hoje vamos fechar mais cedo... Importa-se de pagar, por favor? – pediu delicadamente recolhendo a chávena de café.
O homem franziu a sobrancelha, riu-se ironicamente olhando para um espelho e respondeu:
- Peça ao meu eu do espelho do fundo para pagar. Hoje estou sem dinheiro.
- Quantos sou eu e de quantas formas tenho eu? – pensava enquanto cuspia fumo.
Na verdade não sabia, pois a cada momento mudava, uma vez que toda e qualquer experiência vivida modificava o seu “eu” verdadeiro e autêntico. No entanto, muito estranhamente, gostava disso. Então ia sempre, depois do emprego, àquele discreto café de jardim, para constatar essa realidade através dos espelhos, para se realizar e observar as suas potenciais mudanças de cada dia.
Passado alguns minutos, apressadamente, o empregado aproximou-se para cobrar o café.
- Meu senhor, desculpe mas hoje vamos fechar mais cedo... Importa-se de pagar, por favor? – pediu delicadamente recolhendo a chávena de café.
O homem franziu a sobrancelha, riu-se ironicamente olhando para um espelho e respondeu:
- Peça ao meu eu do espelho do fundo para pagar. Hoje estou sem dinheiro.