
Disse-me o velho que vivia só na morte, que se sepultava em cada lembrança e em cada momento. A sua fatal doença era a vida e todo o tempo roubado que nunca chegou a ter. Matava-se no fumo do caminho, vendo sempre o seu fim desde cedo. A palavra mais sentida era o adeus e, por isso, a mais pesada de se dizer em todas as bocas. Mordia os lábios para o silêncio agarrar. Era um grito calado pela dor das horas passadas, pelo frio esquecimento de viver e de se existir sobrevivendo. Enterrava-se em pensamento e em corpo porque leve era a solidão. Era uma questão de talento, de fuga ao quotidiano, ao gelado calor de um aperto de mão. Disse-me o velho enquanto nascia em cada ruga, em cada sua pequena morte.
1 comment:
Que bom reler-te...
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